[:es]
Por: Aline Zuñiga Menininha
– Bença, Mestre!
– Deus te abençoe, Menininha! Deus te proteja!
Me deu um abraço e três beijos na testa.
– Vá em frente, viu? Sempre em frente!
É lógico que ninguém queria se despedir depois da experiência desses dias, mas eu tinha muitas mais coisas para agradecer do que o motivo da despedida para ficar triste. Afinal, é assim mesmo, do jeito que ele tinha dito: “A vida é que nem a maré, tem hora que vai e tem hora que vem” e ora a gente está na mesma roda, ora a gente está dando a volta ao mundo, ora essas aguas se cruzam de novo; então a gente partiu na esperança do reencontro.
Vou contar nessas linhas um pouco da experiência com o Mestre Antônio César de Vargas, conhecido na Capoeira como Toni Vargas que esteve na Cidade do México do dia 6 ao 9 de abril de 2017. Ele teve a iniciativa de vir até aqui e compartilhar com a gente um pouco do muito que a capoeira já lhe deu. Nós tivemos a honra de receber o Mestre em Odara, o nosso local de treino, e junto com colegas vindos de outros estados do país esse encontro aconteceu.
Ainda hoje estou mastigando esse aprendizado todo. Ele foi embora, mas a imagem das aulas ainda continua ali, como um filme que eu assisto toda vez que eu fecho os olhos e as músicas e as conversas com ele ainda ecoam em algum canto da minha cabeça.
A vivência com M. Toni Vargas certamente foi uma experiência rara e riquíssima para quem soube aproveitar pois ele veio ensinar a gente a jogar Capoeira vivendo-a; não na roda e nos treinos, mas na vida e não do jeito que a gente acha “massa”, chutando aqui e mortal ali, mas de um jeito sabido e elegante igual malandro nas ruas noturnas da vida, por meio de um diálogo esperto no momento do encontro com o outro.
O Mestre nos ensinou que a Capoeira, muito além de ser uma prática corporal, é uma arte de transformação que requer o seu próprio ritual para ser. É um momento de libertação e é por isso ele argumenta que a capoeira não pode ser cheia de regras, mas deixar acontecer o que pode libertar o povo nesse momento. E assim, a capoeira não é apenas um momento de encontro com o outro e consigo, mas um encontro com o sagrado, do jeito que cada um concebe, afinal “o nosso Deus é bom e Ele dança”.
Quem sabe observar, certamente reparou que Toni Vargas ensina Capoeira dentro e fora da academia; o simples fato de bater um papo com ele pode ser uma das mais incríveis aulas de Capoeira que a pessoa já viveu. Dessas conversas eu lembro que ele ensinou coisas que podem ser aplicáveis tanto na roda quanto na vida; por exemplo: a importância da criatividade e de ser e fazer diferente, o infinito de possibilidades diante dos obstáculos, o fato de aprender a tomar rasteira leve nos treinos para saber levantar de uma rasteira fatal no jogo, enfim…
Mas uma das coisas que mais me impactou foi a importância que ele dá para a humildade. Ele ressaltou o quanto a falta de humildade pode impedir o progresso de uma pessoa dentro e fora da Capoeira, pois ele mesmo já experimentou. O Mestre demonstrou isso pois ele não só fala em humildade, mas vive esse valor. Quem já esteve com ele sabe que fora ele ser o Mestre que já gravou trocentos CD’s e que todo mundo conhece, é uma pessoa muito simples, alegre e próxima de quem quer aprender.
E foi assim que entre danças e cantigas, movimentos e poesia ele, no seu papel de Mestre, nos transmitiu tanto em tão poucos dias. Foi uma grande alegria ver a casa cheia de irmãos capoeiristas que vieram de cantos mais distantes motivados pelo desejo de aprender e trazendo a sua energia para somar nesse encontro. Eu ouso afirmar que, nas pessoas que souberam aproveitar esse privilégio, certamente houve uma mudança no seu jeito de ver e de viver a Capoeira. Finalmente, eu só posso agradecer por um dos maiores presentes que a Capoeira já me deu.
¡Ai meu Deus muito obrigada, pela Capoeira eu poder jogar!
¡Axé!
[:]